AFP/Arquivos / WIKUS DE WETO Muro da Recordação, em homenagem aos agricultores brancos assassinados na África do Sul, em Bothaville, em 15 de maio de 2018
O governo sul-africano acusou Donald Trump de semear a divisão depois de um tuíte no qual o presidente americano pede ao seu secretário de Estado que "estude de perto as expropriações de terras e fazendas" e os "assassinatos em grande escala de fazendeiros na África do Sul".
Em um tuíte publicado na quarta-feira, Trump declara ter pedido ao secretário de Estado, Mike Pompeo, para analisar cuidadosamente o tema da reforma agrária na África do Sul.
"Pedi ao secretário de Estado @SecPompeo que analise de perto as apreensões e expropriações de terras e fazendas na África do Sul e os assassinatos em grande escala de fazendeiros", escreveu Trump.
O presidente americano acrescentou no tuíte uma manchete da conservadora Fox News que se referia especialmente à expropriação de terras dos agricultores brancos.
Diante da proximidade das eleições gerais, em 2019, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, prometeu acelerar a reforma agrária com o objetivo de "reparar a grave injustiça histórica" cometida com a maioria negra durante o período colonial e o apartheid, que terminou oficialmente em 1994.
O governo em Pretória não demorou a reagir e disse que a "África do Sul nega totalmente essa visão estreita que não busca nada além de dividir a nação e recordar nosso passado colonial", indicou em sua conta no Twitter.
"A África do Sul irá acelerar o ritmo da reforma de maneira prudente e inclusiva que não divida a nação", defendeu o governo.
- Expropriações -
A ministra das Relações Exteriores, Lindiwe Sisulu, lamentou as declarações "infelizes" de Donald Trump, baseadas em "falsas informações", e pediu "esclarecimentos" aos Estados Unidos.
Questionada pela imprensa em Washington, a porta-voz da diplomacia americana pediu às autoridades sul-africanas "um debate público pacífico e transparente" sobre este delicado assunto.
"A nossa posição é que a expropriação de terras sem compensação poderia colocar a África do Sul na direção errada", preveniu a porta-voz, que se negou a mencionar as medidas previstas pela administração americana.
Hoje a minoria branca, que representa 8% da população da África do Sul, "possui 72% das fazendas", contra "apenas 4%" para os negros, que são 80% da população, segundo o governo.
Para acabar com o desequilíbrio, Ramaphosa e o governo do Congresso Nacional Africano (ANC) decidiu expropriar especialmente os grandes agricultores sem indenização e, para isso, quer fazer uma emenda à Constituição.
A discussão está em curso, mas, ao contrário do que Trump afirma, o projeto não foi colocado em marcha.
Na quarta-feira, o chefe de Estado sul-africano confirmou ao Parlamento a intenção de realizar "expropriações sem compensação", mas negou que existam intenções de nacionalização, e prometeu "reforçar os direitos de propriedade".
Muitos negros celebraram a reforma, mas os brancos expressaram abertamente a sua preocupação.
Temem que ocorram novamente as expulsões violentas de agricultores brancos ordenadas no início da década de 2000 no Zimbábue pelo regime de Robert Mugabe.
A minoria branca também denuncia há anos que seus agricultores são regularmente vítimas de ações violentas nas zonas rurais do país.
Um total de 74 agricultores foram assassinados entre 2016 e 2017 na África do Sul, e quase todos eram brancos, segundo a organização AfriForum, porta-voz da minoria branca.
- 'Mentiras' -
POOL/AFP/Arquivos / GULSHAN KHANO presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, em Joanesburgo, em 26 de julho de 2018
Horas antes do tuíte de Trump, Ramaphosa acusou a AfriForum de "divulgar mentiras e boatos" ao afirmar "no exterior que a ANC quer realizar expropriações em massa".
Depois do tuíte de Donald Trump, o vice-presidente sul-africano, David Mabuza, também criticou "os que deformam a nossa reforma agrária no exterior e difundem informações falsas sobre os 'fazendeiros brancos' ameaçados pelo próprio governo".
Contudo, o responsável da AfriForum, Kallie Kriel, expressou a sua satisfação pela intervenção do presidente Trump neste debate.
"Precisamos de apoio internacional (...) para evitar uma situação na qual nossos dirigentes se comprometam com uma política econômica catastrófica idêntica às que vimos na Venezuela ou no Zimbábue", declarou Kriel à AFP.
A principal organização agrícola sul-africana, AgriSA, fez um chamado à calma para abordar o tema.
"Como país, é importante que encontremos soluções em conjunto. Conseguimos fazer antes de 1994 e podemos voltar a fazer isso", disse o presidente da AgriSA, Omri van Zyl, em declarações à televisão pública SABC.
Fonte: DW
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