O estudante de 13 anos que levou, no dia 30 de Outubro, um crânio humano à Escola 3113, no distrito urbano do 11 de Novembro, no Cazenga, em Luanda, alegadamente com o propósito de exibilo aos seus colegas, terminou o ano lectivo com sucesso. Depois de ter sido retido temporariamente pela Polícia Nacional e encaminhado ao Ministério Público para prestar declarações, o adolescente, que transitou para a 8ª classe, foi restituído à liberdade a tempo de dar sequência aos estudos, em observância aos princípios legais.
“Tanto os professores como os próprios colegas dele afirmaram, durante o inquérito realizado para aferir as motivações que o levaram a trazer o crânio à escola, que é um bom aluno”, declarou a directora da escola, Emília Quissanga. Apesar de a Polícia Nacional estar a executar o programa de policiamento de proximidade, há anos, não comunicaram à direcção da escola depois de concluírem o seu trabalho investigativo.
“A Polícia não fez nenhum retorno à escola, todavia, nos apercebemos que a situação ficou esclarecida. Para nós, direcção da escola, interessava mais o estudante regressar, afim de não perder o ano lectivo e, assim aconteceu”, disse a gestora escolar.
O crânio humano em referência ainda estava bem constituído e aparentava ser de uma pessoa que morreu poucos há anos, de acordo com Emília Quissanga. O adolescente, que frequenta a 7ª classe neste estabelecimento de ensino, vulgarmente conhecido por Escola da BGR, situado na rua da Mulemba, levou o crânio escondido na mochila onde se encontravam os materiais didáticos.
O facto de se ter tornado proibida a entrada de pastas escolares na referida escola, desde que surgiu a onda de desmaios nas escolas do país, ele optou por deixá-la sob os cuidados de uma das senhoras que se dedicam à comercialização de alimentos defronte à mesma.
Uma prática reiterada por parte dos estudantes que se recusam a acatar essa ordem da direcção da escola, conforme noticiou OPAÍS na edição de 31 de Outubro. Enquanto ele assistia às aulas, apareceram dois amigos seus no local e exigiram que a “guardiã do crânio” lhes entregasse a pasta.
“Os outros meninos, julgados serem amigos dele, sabiam que havia o crânio na pasta e tentaram levá-la”, disse. No entanto, a senhora não aceitou entregar-lhes, julgando que pretendiam roubá-la”, contou. Face à insistência dos adolescentes, ante a sua recusa, a comerciante decidiu verificar o objecto de valor que estava no interior da pasta que os tinha atraído.
Assim que abriu, apercebeuse que não havia mais nada senão o crânio de um ser humano que poderia ser de qualquer parente seu, amigo ou conhecido, cujos restos mortais repousam num dos cemitérios de Luanda.
Surpresa, segundo a nossa interlocutora, a comerciante informou ao segurança da escola o que se estava a passar. O assunto chegou ao conhecimento da direcção que, por desconhecer o mesmo, solicitou aos adolescentes que pretendiam levá-la que os ajudassem a localizar o seu companheiro. O adolescente, cujo nome omitimos, contou que vive nas proximidades do Cemitério da Mulemba, vulgo cemitério do 14, e
que foi por ali que o retirou naquela manhã.
Atendendo à gravidade do assunto, a direcção da escola solicitou a comparência de um dos seus encarregados de educação para prestar esclarecimentos. A mãe do adolescente confirmou a proximidade que existe da sua casa com o esse “campo santo”, acrescentando que o mesmo tem sido local de brincadeira para algumas crianças.
Crânio saiu da mulemba
De acordo com Emília Quissanga, a mãe disse que o seu filho, em companhia de alguns amigos, foram, numa Segunda-feira, brincar no interior do cemitério da Mulemba, pelo que se presume que terão daí retirado o crânio. “A mãe informou à escola que ele e os seus amigos brincam às lutas no cemitério arremessam-se crânios como se de pedras se tratasse”, declarou.
Questionado por que razão levou o referido objecto à escola, o adolescente justificou que fê-lo com o propósito de ameaçar alguns meninos que o apoquentam, insultando-o ou agredindo-o fisicamente, sempre, ao longo do caminho de casa para a escola. Na esperança de compreender o assunto, os pedagogos consultaram os colegas dele de turma, por via dos quais tomaram conhecimento de que já se passam alguns dias que o mesmo vinha falado sobre brincar com crânios, entre outros ossos de seres humanos.
Entretanto, os colegas duvidaram, julgando tratar-se de uma invenção, pois, para a maioria deles, é impossível alguém com a sua faixa etária ter a possibilidade de brincar com tais objectos. “Como os colegas duvidaram, ele trouxe o crânio para comprovar que estava a dizer a verdade”, contou na altura. Por julgar tratar-se de um crime, na altura, a direcção da escola comunicou o caso às autoridades policiais, que fizeram deslocar à escola uma equipa de efectivos da esquadra mais próxima, vulgarmente conhecida por Esquadra da Antena, onde o menino permaneceu por apenas algumas horas.
O PAÍS.
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