As mudanças e os paradigmas que ajudaram a criar o campo político angolano são apresentados ao público hoje, às 14h00, na Faculdade de Ciências Sociais, em Luanda, com o lançamento do livro do investigador Fidel Raul Carmo Reis.
Intitulado “Era uma vez... O Campo Político Angolano (1950-1960)”, o livro, cuja abrangência e profundidade do teor fizeram que o autor fosse distinguido com o Prémio Nacional de Cultura e Artes deste ano, é uma análise aos actores que participaram na criação deste campo político, assim como da lógica por detrás das suas actividades e necessidades específicas.
Para o autor, o livro abre a possibilidade do leitor conhecer todo um “micro-universo”, que, historicamente, se vai constituindo e adquirindo características de um espaço, com a sua própria História e regras, muito distintas de outros “universos sociais”.
“No caso de Angola, no período compreendido entre 1950 e 1965, a configuração do campo político é indissociável da constituição do grupo político. Neste processo, é possível reter dois momentos: o primeiro no decurso da década de 50 e um segundo sensivelmente a partir de 1960, quando o grupo político atinge um estádio organizativo que irá conferir ao universo político angolano características de “campo político”, explicou.
Na década de 50, esclareceu, emergiram as primeiras organizações políticas que contestaram a dominação colonial, mas estas estavam ainda num estádio organizativo bastante incipiente. Porém, acrescenta, é no final de 1960 que se dá uma reconfiguração deste campo político, desta vez a partir do exterior.
“Refiro-me, por exemplo, ao caso da UPA e do MPLA, que começam a produzir os seus estatutos e programas de acção. Um momento fundamental deste processo ocorre quando cada uma destas duas organizações constitui o seu primeiro Comité Director, com os respectivos postos e funções, o que para mim assinala a institucionalização da delegação política”.
Este, reforça, é o ponto de partida mais notório de que o campo político angolano vai adquirindo características de um espaço de luta, com interesses específicos e critérios de avaliação próprios.
“Apesar dos seus constrangimentos internos (crises), ambas organizações tinham atingido um tal estádio organizativo que marcam, entre 1960 e 1965, uma etapa determinante”. Para o investigador, é prematuro falar em fases do campo político em Angola, porque, no seu entender, a configuração e estruturação me-rece ser apreendida como um processo, que ainda está em curso.
Distinguido com o Prémio Nacional de Cultura e Artes 2018, galardão que considera ser um símbolo de orgulho e privilégio, “principalmente por ser na companhia de Viriato da Cruz”, Fidel Reis considera fundamental a realização de mais debates em torno da problemática da investigação.
Em relação à produção histórica, sobretudo relativamente à historiografia recente do país, Fidel Reis disse que, durante muito tempo, era, e ainda é em parte, uma extensão das lutas políticas entre angolanos. “Espero que possamos entrar num processo de viragem”, apelou.
Jornal de Angola
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