“As relações entre Portugal e Angola sempre foram ditadas pela vontade dos interesses particulares quer dos governantes angolanos quer dos setores dos interesses empresariais portugueses”, mas a visita que António Costa vai fazer dia 10 e 11 de setembro a Angola pode ser o primeiro sinal de alteração desta correlação de forças. A análise é de Rafael Marques, jornalista angolano que esteve detido por diversas durante o regime de José Eduardo dos Santos.

Esperamos que com esta visita de António Costa se possa começar a olhar para a relação entre os dois países como relações verdadeiramente de Estado e que possam ser mutuamente benéficas, quer para a população angolana quer para a população portuguesa, porque até aqui tem sido apenas benéfica para os interesses da elite corrupta angolana e dos seus parceiros portugueses”, disse o jornalista.
Rafael Marques falava aos jornalistas à margem do Fórum Socialismo, a rentrée do Bloco de Esquerda que está a decorrer este fim-de-semana em Leiria e em que participou como orador. “Dentro de Angola todos sabem que o poder de José Eduardo [dos Santos] chegou definitivamente ao fim e o poder da sua família também”, explica.
Para que a democratização do país aconteça não pode haver uma transferência direta de poderes de um homem para outro. É necessário que haja “reformas constitucionais e outras que garantam uma democracia participativa”. Se isso não acontecer, Angola irá “depender da vontade de João Lourenço e não se constrói um país com a vontade de um só homem”.
A oportunidade é, agora, melhor do que alguma vez se afigurou. A influência de José Eduardo dos Santos é pouca e a possibilidade de potenciar a sua ausência pode permitir uma melhoria das relações entre os dois países. “Na verdade, José Eduardo dos Santos hoje é uma figura ridícula em Angola e portanto a ideia de que possa ter poderes secretos, possa ter poderes para além dos seus dias enquanto presidente do MPLA, é apenas um mito que prevalece fora de Angola”, esclarece Rafael Marques.
O jornalista angolano teve direito a um painel em que era figura única nesta rentrée bloquista. E desde cedo se percebeu que era um dos nomes que mais curiosidade despertavam entre os militantes bloquistas. A sala cheia para o ouvir comprovou-o.
“Do ponto de vista externo há um engajamento do novo presidente no combate à corrupção”, começou por explicar o jornalista. Os sinais de mudança que João Lourenço foi dando desde que assumiu a Presidência da República serviram “para mostrar ao mundo que Angola está a mudar”. Rafael Marques referia-se a casos como o de Isabel dos Santos, que foi exonerada da liderança da Sonangol. No entanto, não bastam.Fonte: Observador
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