Com algum humor, um cidadão angolano, que dizia estar atento à política mundial e, em particular, aos Estados Unidos da América, afirmava que, caso fosse cartoonista, faria uma caricatura de Donald Trump como Presidente norte-americano birrento a dar sapatadas no chão, enquanto exigia que lhe dessem mais peças para concluir a construção de um muro à volta de um imaginário Forte Apache.
Isso tudo devido à forte polémica que marca actualmente a política interna norte-americana acerca da construção de um muro na fronteira com o vizinho México. O embate entre o empenho, considerado por alguns uma verdadeira obsessão, de Trump em construir o muro para supostamente travar a imigração e a recusa dos democratas em aprovar meios para financiá-lo deu lugar à mais longa paralisação parcial do Governo na História dos Estados Unidos da América.
Quase 800 mil funcionários públicos ficaram sem receber salários e foram abrangidos por este shutdown sem precedentes. Donald Trump ameaçou pôr fim à situação, declarando emergência nacional, mas, na sexta-feira, afirmou que tal “não é algo que se contemple imediatamente”.
Apoiantes do muro
A barreira exigida por Donald Trump só pode ser comparada àquela que durante décadas separou as duas Alemanhas após a II Guerra Mundial e foi apelidada de “Muro da Vergonha”.
Mas, a verdade é que, se este braço-de-ferro prenuncia os desafios que aguarda o polémico Presidente nesta nova etapa de poder compartilhado, pois um acordo nessa matéria parece inalcançável, as sondagens mais recentes dão conta de um aumento do apoio dos cidadãos norte-americanos à construção do muro.
De acordo com uma pesquisa realizada pela ABC e pelo jornal “The Washington Post” entre 8 e 11 de Janeiro, 42 por cento dos norte-americanos são a favor da construção do muro, um ano depois desse percentual ser apenas de 34 por cento.
Publicada a 13 de Janeiro, a pesquisa aponta ainda que a oposição à obra, que era de 63 por cento, é agora de 54 por cento. Contudo, 53 por cento dos eleitores norte-americanos culpam o Presidente e o Partido Republicano pela paralisação do Governo dos EUA.
Pelo menos 29 por cento culpam os democratas da situação, mas 13 por cento apontam o dedo a ambos os partidos.
Presidente bate o pé
Trump bate o pé e defende que apenas a aprovação da verba para a construção do muro pode resolver a paralisação do Governo. A 14 de Janeiro, ele ameaçou manter o shutdown durante “meses ou inclusive anos”.
O shutdown, que já vai na quarta semana, é uma consequência da política interna norte-americana, país em que a burocracia federal, que mantém em funcionamento muitos dos aspectos da vida, é financiada com um orçamento anual estabelecido e aprovado pelo Congresso. Tal acontece mediante uma dúzia de projectos de lei que precisam de ser aprovados por maioria qualificada de dois terços no Senado, e que o Presidente precisa de sancionar.
Sem essa maioria, ou se o Presidente não assinar o pacote antes da data regulamentar, as partes do Governo que ficam sem financiamento fecham e os funcionários são mandados para casa, com licença não remunerada, excepto os considerados essenciais pela natureza do seu trabalho, os quais são obrigados a dar expediente sem ganharem nada.
A actual paralisação, que começou a 21 de Dezembro último e está a ser comparada à que abalou a administração Clinton, terminada a 6 de Janeiro de 1996, embora não afecte todo o Governo federal, já que outros departamentos federais foram financiados com antecedência, pode, segundo alguns analistas, demorar mais tempo e afecta um quarto dos funcionários do aparelho de Estado, ou seja, 40 por cento da Agricultura, 87 do Comércio, 13 da Segurança Nacional, 95 da Moradia e Desenvolvimento Urbano, 78 do Interior, 17 da Justiça, 34 dos Transportes, 95 do Ambiente, 83 do Tesouro (Finanças) e uma parte do Departamento de Estado (Relações Exteriores).
Paralisação afecta até a NASA
Dos cerca de 800 mil funcionários afectados, 420 mil foram qualificados como essenciais e continuam a trabalhar sem remuneração. O site imobiliário Zillow revelou que os trabalhadores nessas condições estão a dever 249 milhões de dólares em pagamentos mensais de hipotecas.
A isso somam-se os agricultores, que não podem receber assistência para aderir a programas de ajudas recém-aprovados, os parques nacionais e museus, que estão fechados ou oferecem serviços muito limitados, cerca de 30 milhões de pequenos empresários, que estão sem acesso a empréstimos federais e assistência técnica.
Para se ter uma melhor noção do impacto desta paralisação, as agências de pesquisa científica, incluindo a NASA, têm as actividades afectadas e as restituições de impostos atrasaram. Em termos económicos, para o Governo, o encerramento de toda esta série de serviços, significa perdas de 1,2 mil milhões de dólares do PIB por semana.
Nas contas para este ano, Trump exige o acréscimo de 5,7 mil milhões ao financiamento federal, aprovado antes de 21 de Dezembro, destinados à construção do muro. Os opositores respondem que não por considerarem a medida ineficaz, demasiado cara e morosa.
Fast Food na Casa Branca
Apesar de toda a polémica à volta desta situação, Donald Trump acena com novos truques de magia, como se quisesse tirar um coelho da cartola. No passado domingo, quando o shutdown já durava há três semanas, ele afirmou que pode ser mais fácil obter o apoio dos democratas se o muro for de aço em vez de cimento.
“Esta é uma batalha muito importante de se ganhar em termos de segurança”, disse Trump aos jornalistas na Casa Branca, citado pela Reuters. “A barreira, ou muro, pode ser de aço em vez de cimento, se isso ajudar”, referiu o Presidente norte-americano.No Twitter, Trump escreveu que um muro em aço é “ao mesmo tempo mais forte e menos intrusivo” e que a solução poderá ser “fabricada nos EUA”.
Mas não se ficou por aí. Ao receber na Casa Branca a equipa de futebol americano Clemson Tigers, o Presidente Donald Trump mandou servir com pizzas, hambúrgueres e batatas fritas. “Pedimos fast food americano e sou eu quem paga”.
Jornal de Angola
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