sábado, 28 de julho de 2018

Administração do Kilamba Kiaxi vai demolir 140 casas do ex-Centro de Acolhimento da Igreja Católica no Palanca, moradores sem realojamento


Os moradores da antiga Escola 11 de Novembro, no Palanca, também conhecida como "Padre Horácio" e pertencente à Igreja Católica, vão ser desalojados no próximo mês de Agosto. A administração Municipal do Kilamba Kiaxi diz que não haverá realojamento das famílias por se tratar de ocupantes ilegais.

Albina Guilhermina (na foto), administradora municipal do Kilamba Kiaxi, em declarações ao NJOnline, afirmou que administração que dirige recebeu um pedido da Igreja Católica para desapropriar os ocupantes ilegais daquele espaço, que pertenceu ao antigo Centro de Acolhimento da referida igreja.

"Trata-se de um espaço alheio. Não pertence àquelas famílias, que foram ocupando de forma ilícita o terreno e as antigas instalações do centro, mesmo sabendo, de antemão, que aquele terreno sempre teve dono", disse.

Segundo a administradora municipal, as centenas de famílias que aí vivem não serão realojadas porque o espaço nunca lhes pertenceu. A responsável acrescentou que a administração do Kilamba Kiaxi, enquanto autoridade, vai repor a legalidade e devolver o recinto ao proprietário.

Sobre o assunto, o NJOnline procurou obter mais esclarecimentos junto da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e Príncipe (CEAST), titular do espaço, mas não obteve resposta.

Já os residentes afirmam que a Igreja nunca os proibiu de viver naquele espaço, e garantem que a mesma foi acompanhando o crescimento do bairro, através das famílias que ali habitam.

Maria do Céu, porta-voz do grupo de moradores, refere não compreender por que razão a Igreja nunca impediu nenhum morador da zona de construir naquela localidade.

Maria conta que, no ano de 2005, após o fim do Centro de Acolhimento "Padre Horácio", no bairro Palanca, os estudantes do internato e professores que não tinham para onde ir permaneceram no local, ocupando as instalações e fazendo delas residência. De acordo com a porta-voz dos moradores, tudo aconteceu sob orientação de um dos professores que, à época, era responsável do espaço, por forma a conter os actos de delinquência que se propagavam no local.

"Começámos a viver nas instalações do ex-Centro de Acolhimento e a constituir famílias. Muitos de nós, havendo necessidade de acomodação e sem recursos, fomos construindo casas de chapa nos espaços livres da escola", continuou.

"Na época aconteciam coisas que nós não conseguíamos justificar, tal como violações constantes, e várias vezes encontrávamos cadáveres nos capins", lembra Maria do Céu, acrescentando que os crimes acabaram quando começaram a habitar o local.

A porta-voz dos moradores explicou ainda que em 2011 receberam pela primeira vez uma visita da Administração Municipal do Kilamba Kiaxi, e da direcção municipal do Ministério da Assistência e Reinserção Social (MINARS), na altura órgão do Governo encarregue de dirigir e coordenar a execução da política social relativa aos grupos mais vulneráveis da população.

"Nessa altura, o senhor administrador comunal, depois de visitar o recinto, mandou-nos fazer uma lista das pessoas que aqui viviam, sendo que foram surgindo alguns ex-estudantes internos do centro e filhos de alguns ex-funcionários da instituição e pessoas necessitadas", argumenta.

"Na época nunca nos informaram de que não se podia construir no espaço, e fomos vivendo tranquilamente e sem preocupação alguma", reforça a responsável.

"A rua não é vida para ninguém. Por favor não nos deixem voltar outra vez" - apela um morador

Os moradores adiantam ao NJOnline que, no ano de 2012, foi feito um cadastramento pelo gabinete de Reconversão Urbano do Cazenga e do Sambizanga.

Por isso, contam os residentes, acreditaram que a situação estaria bem encaminhada, percepção acentuada pelo facto de não terem recebido nenhum aviso de que um dia teriam que abandonar o espaço.

Entretanto, ainda segundo a população, no dia 14 deste mês uma equipa da fiscalização do Palanca, acompanhada pelo administrador adjunto do distrito, surpreendeu os residentes, notificando as 140 habitações onde vivem com o aviso de que serão desalojados num prazo de 30 dias, por terem ocupado o espaço da Igreja Católica.

  • O ultimato volta a colocar muitos de frente para o "abismo".

Um antigo estudante do Centro "Padre Horácio", por exemplo, contou que vivia nas ruas de Luanda e praticava assaltos, juntamente com outros meninos, e que foi recolhido pela Missão Católica para passar a viver no Centro de Acolhimento da Igreja Católica.

Já o jovem Makungo Manuel, de 28 anos, conta que foi graças à educação que recebeu dos padres, que hoje é o homem que é, aprendeu a ler e escrever e tem esse lugar como parte da sua vida. "Se me tiram daqui, vou morar mais onde?", questiona.

As raízes criadas pelos moradores sobressaem também na história de Fátima Domingos residente no espaço há mais de 12 anos: quando chegou ao local não tinha filhos, hoje tem cinco, todos aí nascidos.

O vizinho António Mingas "Ti Loy", que vive no bairro desde 2005 e também é um antigo estudante do "Padre Horácio", explica que depois de deixar o internato não tinha sítio para viver, tendo, por orientação dos antigos professores, passado a residir nas antigas instalações do centro.

"A rua não é vida para ninguém. Já lá estive. Por favor não nos deixem voltar outra vez, senão vamos morrer. Eu particularmente vou ser preso ou vou acabar como mendigo", implorou.

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