Apesar de as matrículas nas escolas públicas serem gratuitas, as mulheres zungueiras denunciaram que as vagas apenas estão a ser obtidas mediante pagamento
Um grupo de 80 zungueiras manifestou- se ontem, em Cacuaco, na sede da Associação dos Vendedores Ambulantes de Luanda (AVAL) para exigir o enquadramento dos seus filhos nas escolas públicas. Segundo as mulheres, desde que foram retiradas das ruas, de onde exerciam a actividade de venda ambulante, enfrentam sérias dificuldades financeiras e, por isso, não conseguiram matricular os seus filhos nas escolas privadas. Porém, diante das dificuldades, as vendedoras uniram-se para exigirem, por via da AVAL, associação que as defende, iniciativas que possam enquadrar os seus educandos nas escolas públicas. De acordo com as senhoras, apesar de as matrículas nas escolas públicas serem gratuitas, ainda assim as vagas só estão a ser obtidas mediante pagamento de valores.
Conforme frisaram, por fata de dinheiro, não conseguiram matricular os seus filhos, situação que está a criar embaraço na vida dos menores que correm o risco de perderem o ano lectivo 2019-2020. Diante do cenário caótico, as mulheres zungueiras exigem da AVAL, enquanto organização da sociedade civil, contactos permanentes com as direcções municipais de Educação, de forma a que os seus filhos sejam enquadrados. “Nas escolas públicas tudo se paga. E já não estamos a vender. Não temos dinheiro. Não podemos permitir que os nossos filhos percam o ano. É por isso que estamos a exigir que o Estado fale connosco, porque as nossas crianças estão em risco de ficar em casa”, desabafou Maria de Fátima.
Por seu turno, Rosa Manuel disse que, enquanto não se resolve a situação do enquadramento dos seus filhos nas escolas públicas, o grupo vai levar o pretexto às ruas de Luanda com regularidade, até que tenham uma resposta positiva. A senhora, mãe de três filhos, explicou que sempre optou em matricular as crianças em escolas privadas pelo facto de as públicas serem bastante concorridas, o que torna difícil a disponibilidade de vagas. No entanto, era com o dinheiro da venda ambulante que conseguia pagar as propinas e outros custos inerentes à formação dos filhos. E desde que foi forçada a abandonar as ruas, na sequência da Operação Resgate, em curso em todo o país, Rosa afirmou estar a enfrentar sérias dificuldades, o que a impossibilita de custear as propinas. “O Estado tem que olhar para a nossa situação, não podemos ter os nossos miúdos desamparados”, disse.
Limitações condicionam acções
Já o presidente da AVAL, José Cassoma, disse que a sua organização tem programas de apoio aos filhos dos seus associados, mas devido às dificuldades de verbas algumas acções encontram-se suspensas. De acordo com o responsável, apesar de as instituições públicas se monstrarem sempre indisponíveis ao diálogo, a sua organização tem trabalhado de forma a encontrar vagas nas escolas públicas e privadas para os filhos dos vendedores ambulantes. Neste sentido, explicou, estão em curso negociações a nível das direcções municipais da educação de Viana, Cazenga e Cacuaco, para ver se, mediante um pedido especial, se consegue enquadrar mais filhos de zungueiras no presente ano lectivo.
Porém, caso não se encontre uma solução nas escolas públicas, José Cassoma fez saber que a sua organização vai direccionar as atenções às escolas privadas espalhadas pelos bairros de Luanda, a fim de nessas instituições enquadrar-se os menores mediante uma redução das propinas. “É um programa de auxílio que já desenvolvemos há anos. Mas, comos sabe, os necessitados são muitos. E nós não conseguimos atender a todos. Não somos uma organização governamental. Somos apenas parceira do Estado e funcionamos com muitas limitações.”, reforçou.
OPAIS
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