Pelo menos um manifestante foi morto a tiros nesta quarta-feira (1º) em Harare, em confrontos entre as forças da ordem e partidários da oposição, que acusam a Comissão Eleitoral de fraudes, após o anúncio de que o partido no poder no Zimbábue desde 1980, Zanu-PF, obteve a maioria absoluta na Assembleia Nacional.
Um homem que levou um tiro no estômago disparado por um militar não resistiu aos ferimentos, constatou um fotógrafo da AFP. Além disso, a Polícia usou gás lacrimogêneo e jatos d’água para tentar dispersar a multidão reunida diante dos postos temporários da Comissão Eleitoral. Os manifestantes reagiram com pedras.
“Não queremos soldados nas ruas. Eles não vão nos calar com seus fuzis”, afirmou pouco antes o ex-agente imobiliário Beridge Takaendesa, de 43 anos.
Barricadas foram erguidas na cidade com blocos de concreto e pedras. Policiais do Batalhão de Choque bloqueavam, nesta quarta à tarde, o acesso à sede do principal partido da oposição, o Movimento para a Mudança Democrática (MDC), enquanto veículos militares patrulhavam a área.
O partido que governa o Zimbábue desde 1980 conquistou a maioria absoluta dos deputados nas eleições legislativas de segunda-feira, as primeiras no país sem a presença de Robert Mugabe.
“O Zanu-PF conseguiu 110 cadeiras (de um total de 210) na Assembleia Nacional, enquanto o partido opositor Movimento pela Mudança Democrática (MDC) conseguiu 41 deputados”, anunciou o canal de televisão público ZBC, com base nos resultados da Comissão Eleitoral em 153 circunscrições de um total de 210.
Os observadores da União Europeia (UE) devem publicar nas próximas horas o relatório preliminar sobre as eleições presidencial, legislativas e municipais de 30 de julho.
O atual presidente Emmerson Mnangagwa, ex-braço direito de Mugage, prometeu eleições justas, pacíficas e transparentes. Ele convidou observadores ocidentais para acompanhar o processo, algo inédito nos últimos 16 anos.
No Twitter, o líder da oposição, Nelson Chamisa, denunciou que a Comissão Eleitoral, criticada por sua parcialidade durante a era Mugabe, “quer publicar os resultados para ganhar tempo e impedir a vitória do povo nas eleições presidenciais”.
“A estratégia tem como objetivo preparar mentalmente o Zimbábue para que aceite os falsos resultados das presidenciais”, completou Chamisa.
Na terça-feira, o MDC, partido de Chamisa, reivindicou a vitória.
Os resultados definitivos da disputa entre Mnangagwa e Chamisa ainda não foram anunciados. O canal ZEC advertiu que os números finais não devem ser divulgados antes de sexta-feira, ou sábado, o que revoltou o MDC. O partido acusa a Comissão Eleitoral de querer manipular os resultados.
Se nenhum candidato conquistar a maioria absoluta no primeiro turno, os dois mais votados disputarão o segundo turno em 8 de setembro.
Os resultados das legislativas anunciados nesta quarta-feira pela Comissão Eleitoral contradizem a vitória reivindicada na terça-feira pelo MDC.
“Recebemos os resultados dos nossos colaboradores (…). Os resultados mostram, para além de qualquer dúvida razoável, que ganhamos as eleições e que o próximo presidente do Zimbábue será Nelson Chamisa”, afirmou um dos principais líderes do MDC, Tendai Biti, que citou o candidato do partido.
Já o presidente Emmerson Mnangagwa, líder do Zanu-PF e que aspira ao segundo mandato, mostrou-se confiante na vitória. “As informações obtidas por meus representantes são muito positivas”, disse Mnangagwa.
Após a chegada de Robert Mugabe ao poder em 1980, as eleições no país sempre foram marcadas por denúncias de fraude e por confrontos violentos.
Estas eleições são as primeiras nas últimas quatro décadas no Zimbábue sem a presença de Mugabe, deposto em novembro pelo Exército e o Zanu-PF, depois de passar 37 anos no poder.
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