segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Assassinatos e assaltos à mão armada instalam clima de medo no bairro da Terra Nova, no Rangel


Foto: Lídia Onde I Gaspar Faustino


A criminalidade violenta instalou-se nas ruas do bairro da Terra Nova, no distrito urbano do Rangel, província de Luanda, onde os assassinatos e os assaltos à mão armada estão a tirar a tranquilidade aos moradores, que atribuem a insegurança crescente à falta de patrulhamento no período nocturno.


Os relatos de crimes sucedem-se pelas artérias do bairro da Terra Nova, com especial incidência nas ruas da Ilha da Madeira, Henrique Gago da Graça, vulgo Maria Alice, e Macau, nos arredores do viaduto inacabado da avenida Hoji ya Henda, na circunvizinhança entre o Rangel e o Cazenga.

"Nos dias 16 e 17 deste mês houve dois assassinatos com recurso a arma branca (faca). Dois homens perderam a vida nas imediações do viaduto inacabado da avenida Hoji ya Henda por reagirem a assaltos", contou ao NJOnline Joy Gonçalves, morador do bairro da Terra Nova há mais de 30 anos.

O sentimento de insegurança mantém Augusto José, de 32 anos, em estado de alerta. Proprietário de uma lanchonete na rua de Macau, uma das mais movimentadas do bairro - que dá acesso ao centro de saúde Beiral, à ex-fábrica de cigarros (FTU) e à rua do mercado do Tunga N"gou -, o comerciante já passou pelo trauma de ser assaltado, tanto na rua como no interior do seu estabelecimento comercial.

"Fui assaltado por duas vezes. A primeira foi com recurso a arma de fogo no interior do meu estabelecimento, e a segunda foi com arma branca (faca). Eu tentei reagir e sofri alguns ferimentos. Sei que não se deve reagir, mas foi a minha reacção no momento", recorda.

Na factura de crimes recentes no bairro, Augusto José coloca ainda o assassinato a tiros de um jovem de 23 anos, ocorrido no passado dia 14 de Julho.

"O homicídio aconteceu por volta das 21h. Mataram o rapaz aqui em frente da minha lanchonete, com três tiros: um na perna, outro no braço, e mais um na cabeça", relata o comerciante, acrescentando que o atirador continua à solta.

"Dizem que foi um agente do Serviço de Investigação Criminal (SIC) que assassinou o rapaz, mas até hoje o caso não foi esclarecido", lamenta, sem esconder os receios.

Medo de sair de casa


"Nos últimos meses está a dar medo sair de casa, mas temos que sair porque a vida não pára".

O aumento da criminalidade no bairro é igualmente assinalado por Nacobeta, taxista há 13 anos e residente na Terra Nova desde a sua adolescência.

Ao NJOnline, o morador garante que nunca viu o bairro mergulhado numa maré de crimes como aquela que se está a observar agora.

"É muita coisa que enfrentamos todos os santos dias aqui. Quando notamos que está a vir uma moto, ficamos atentos, principalmente se estiver com duas pessoas", desabafa, sublinhando que não tem outra opção a não ser rezar para que nada de mal aconteça. "Aqui os assaltos são frequentes, se não és tocado pelos meliantes tens de dar graças a Deus".

Não foi o caso de uma professora ouvida pelo NJOnline. A docente, que falou sob anonimato, recorda um assalto de que foi vítima à porta de casa, por volta das 17h, quando regressava do serviço.

"Foi interpelada por dois jovens que estavam a andar a pé. Um deles tirou a arma e apontou-me nas costas, e o outro abriu a minha pasta e tirou o telemóvel e 20 mil Kwanzas que tinha acabado de tirar no multicaixa", relatou, sublinhando que não entende a razão da existência no bairro do Serviço Provincial de Investigação Criminal (SPIC), se os crimes são frequentes.

Para além de apontar o dedo à falta de patrulhamento, a professora defende que os moradores também têm responsabilidade no aumento da violência.

"Aqui há moradores com filhos delinquentes que não aceitam denunciá-los às autoridades. Deste modo será complicado combater ou reduzir a delinquência que se tem alastrado dia após dia", conta, lembrando os tempos menos conturbados.

"A Terra Nova era um bairro tranquilo, começou a mudar de há uns anos para cá. Não sei o que aconteceu", resigna-se a mulher, lamentando que em plena luz do dia muitos rapazes com idades entre os 13 e os18 anos fiquem "nos cantos a fumar estupefacientes, vulgo liamba".

Patrulhamento na zona está a ser reforçado, garante MININT


erante este quadro de criminalidade, que tem tirado o sossego dos moradores, o NJOnline contactou o director de comunicação do Ministério do Interior, intendente Mateus Rodrigues, que confirmou os dois homicídios dos dias 16 e 17 deste mês, e garantiu que já tem dois detidos referentes ao assassinato do dia 17.

"Reconhecemos a existência desta preocupação em função dessas ocorrências, particularmente das duas que terminaram na morte de dois cidadãos, e das reclamações que vão sendo ouvidas", disse, acrescentando que "já está a ser reforçado o patrulhamento na zona".

O responsável pelo gabinete de comunicação do MININT adiantou que esse patrulhamento será feito durante os períodos da manhã e da noite e com o apoio do SIC.

"Para além da Polícia de Ordem Pública no terreno, os efectivos do Serviço de Investigação Criminal (SIC) também darão suporte nas diligências para depositarmos a tranquilidade naquela zona", concluiu.

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