quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Último discurso de José Eduardo dos Santos como Presidente do MPLA



Esta é a minha última intervenção, na qualidade de Presidente do MPLA, função que, honrosamente, desempenho desde 21 de Setembro de 1979, quando, em circunstâncias alheias à minha vontade, fui escolhido pelo Comité Central do MPLA para substituir o falecido Presidente António Agostinho Neto.

Não foi, como disse na altura, uma substituição fácil ou possível, mas apenas uma substituição necessária.

Alguns camaradas aqui presentes sabem que eu nunca ambicionei tal cargo e nem tão-pouco pensei que pudesse permanecer no mesmo tantos anos, mas as circunstâncias históricas e políticas assim o determinaram.

Procurei, ao longo destes anos, dar o melhor de mim, aquilo que estava ao alcance das minhas forças e das minhas capacidades intelectuais alicerçadas nas profundas convicções políticas e ideológicas, que, desde a juventude, nortearam a minha vida.

Não existe, naturalmente, qualquer actividade humana isenta de erros e assumo que também os cometi, pois só deste modo os pudemos ultrapassar. O erro é parte integrante do nosso processo de aperfeiçoamento. Por isso se diz que aprendemos com os erros.

Hoje, dia 8 de Setembro de 2018, é de cabeça erguida que estou neste grande conclave do nosso Partido, na presença de mais de dois mil delegados, com a convicção do dever cumprido, pronto a passar o testemunho de liderança do Partido ao seu próximo Presidente.

Para trás ficam anos de luta, de resiliência, de firmeza, de camaradagem e de solidariedade para que o MPLA se afirmasse como um grande Partido vencedor, servindo os interesses superiores do povo angolano.

O MPLA conquistou e consolidou a Independência Nacional, manteve a integridade do nosso território, de Cabinda ao Cunene, do mar ao leste; assegurou a conquista da paz, da reconciliação nacional e da democracia e empenhou-se, entre outras frentes, na luta pela justiça social e na modernização do País.

Em todas as vertentes de luta que visam aperfeiçoar a sociedade e garantir ao cidadão os seus plenos direitos, o MPLA situou-se sempre na linha da frente.

Todos juntos, jovens, mulheres, homens, militantes e povo em geral, nos batemos pela edificação deste grande momento que se chama o Partido MPLA.

Apesar de tudo, o Partido MPLA é um edifício que nunca estará concluído, porque a dialéctica da vida exige que ele seja constantemente aperfeiçoado, a fim de fazer face às exigências de cada momento específico do desenvolvimento económico, social e cultural do País, onde ele se insere como um corpo vivo, que procura catalisar todas transformações que ocorrem ao longo da história da Nação angolana.

Por essa razão, o MPLA, embora preserve a sua matriz fundacional, passou por imensas transformações desde 1979, altura em que assumi a sua Presidência.

O contexto interno e internacional exigiu a sua evolução para um Partido aberto a todos os estratos sociais, que preconiza o desenvolvimento com base na economia de mercado.

Com efeito, nos finais da década de 80 do século 20, assistimos a uma alteração no jogo político mundial, com o fim do bloco socialista, encabeçado pela União Soviética e com a decadência das políticas orientadas para o fortalecimento da economia estatal.

O MPLA, neste quadro, refundou os seus princípios ideológicos, os seus objectivos estratégicos e os seus métodos de organização e de acção, tornando-se num Partido mais democrático e mais moderno, capaz de obter nas urnas a legitimidade do exercício do poder político.

Com o advento da democracia e a constituição de um Estado democrático de direito, o MPLA passou a reger-se pelos princípios da transparência, da organização e da gestão democrática e da participação de todos os seus membros, o que implicou o abandono, por exemplo, do princípio do centralismo democrático, isto é, passamos a ter eleições periódicas dos dirigentes pelas assembleias ou conferências representativas dos seus membros; admitimos a possibilidade de candidaturas alternativas e a prática do sufrágio secreto.

De um Partido de cerca de 35 mil membros, em 1979, o MPLA cresceu e tem hoje mais de quatro milhões de membros.

Começa neste 6.º Congresso Extraordinário uma nova era na vida do Partido. O Comité Central e o novo Presidente do Partido terão a incumbência de manter a rota do MPLA no rumo certo, o que implica, preservar os princípios e valores do MPLA, manter a unidade e a coesão internas, estimular os militantes, aprimorar a nossa organização, mobilizar o povo e o eleitorado, a fim de obter novas vitórias.

A grande tarefa que se vai colocar a todos é como levar o nosso Partido desde o ponto em que se encontra no presente, até ao lugar onde se pretende que esteja no futuro.

Deixo-vos o meu modesto legado para que continuem a trilhar os caminhos preconizados pelas figuras cimeiras da nossa história recente que estiveram na base da fundação e da construção do MPLA, entre as quais destaco a proeminente figura do Presidente António Agostinho Neto.

Que se encontre nos mesmos o estímulo necessário para a vontade firme de se combater a pobreza e a exclusão, de se promover o bem-estar social e de se preservar a paz e a estabilidade política.

Deixo aqui uma palavra de profunda gratidão a todos quantos, com zelo e dedicação, me apoiaram sempre durante todos estes anos no exercício da Presidência do Partido, tornando possível o seu crescimento e fortalecimento.

Trago-vos no coração, onde reservo um lugar especial para o povo angolano.
Muito obrigado.

Desejo-vos êxitos e declaro aberto o 6.º Congresso Extraordinário do Partido MPLA”.

Fonte: Angop

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