segunda-feira, 21 de maio de 2018

Venezuela ameaçada por mais sanções e agravamento da crise após reeleição de Maduro

Venezuela ameaçada por mais sanções e agravamento da crise após reeleição de Maduro





A Venezuela enfrenta a ameaça de novas sanções internacionais e do aumento da crise social e econômica após a questionada reeleição do presidente Nicolás Maduro até 2025, em eleições não reconhecidas pela oposição e por vários países.

Maduro recebeu no domingo 68% dos 8.603.936 votos, contra 21,2% do ex-chavista Henri Falcón, para quem o processo não teve legitimidade. O candidato opositor acusou o governo de “compra de votos” e “chantagem” com os programas sociais.

Apesar de ter celebrado uma vitória por “nocaute”, o presidente foi reeleito em uma votação que registrou um índice recorde de abstenção de 52%, após o boicote convocado pela opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), que considerou a eleição uma “farsa” para perpetuar Maduro no poder.

Falcón e o pastor evangélico Javier Bertucci, o terceiro candidato, denunciaram que Maduro coagiu os eleitores com os “pontos vermelhos”, locais onde o partido governista registrou os eleitores com um carnê necessário para receber ajuda social.

Estados Unidos, Canadá, União Europeia (UE) e vários países da América Latina respaldaram a MUD, antecipando que não reconheceriam os resultados. Chile, Panamá e Costa Rica reafirmaram a posição nas últimas horas.

O panorama é sombrio para um país isolado e arruinado, com uma população que suporta a falta de alimentos e remédios, um custo de vida muito elevado – um salário mínimo compra apenas meio quilo de carne – e o êxodo de centenas de milhares de pessoas.

A Venezuela sofre a pior crise de sua história recente: o FMI calcula uma queda de 15% do PIB e uma hiperinflação de 13.800% para 2018. A produção de petróleo está no pior nível em 30 anos.

“Os cenários estão cantados: tensão política, radicalização as partes, repressão, desconhecimento internacional em massa, aprofundamento das sanções e o clímax da crise econômica”, opina o analista Luis Vicente León.

– A catástrofe –

Maduro, ex-motorista de ônibus e sindicalista de 55 anos, no poder desde 2013, atribui o colapso a uma “guerra da direita” aliada com Washington, mas seus adversários afirmam que a crise é motivada por uma desastrosa gestão da economia.

Conhecedor da catástrofe, Maduro, reconheceu que deve fazer “mudanças” para obter prosperidade. Mas não explica o que fará para alcançar o que não conseguiu em seu primeiro mandato.

“Me dedicarei por inteiro à recuperação da economia”, prometeu ao celebrar a vitória diante de milhares de simpatizantes no Palácio de Miraflores.


Mas Washington parece decidido a não facilitar a vida de Madura. “A farsa das eleições não muda nada”, declarou no domingo o secretário de Estado americano, Mike Pompeo.

O governo dos Estados Unidos, país para o qual a Venezuela vende um terço de sua produção de petróleo, ameaça adotar um embargo petroleiro e proibiu que seus cidadãos negociem títulos da dívida venezuelana, depois que o país e a petroleira PDVSA foram declarados em default parcial em 2017.

Maduro confia em seus aliados China e Rússia. “Porém, um novo governo, considerado ilegítimo, não terá capacidade de manobra, nem na área das finanças internacionais nem na diplomacia”, adverte Andrés Cañizalez, especialista em comunicação política.

– Os demônios internos –

Ao proclamar seu triunfo, Maduro convocou um “diálogo nacional”, mas a MUD já havia anunciado a intenção de aumentar a pressão por “eleições verdadeiras” ainda este ano.

Falcón pediu no domingo uma nova eleição em outubro em dezembro, uma demanda apoiada pelo pastor Bertucci.


Mas a oposição está profundamente dividida. Falcón se afastou das determinações da MUD para lançar sua candidatura, o que despertou os demônios internos. Em nenhum momento conseguiu acabar com o estigma de “traidor”, acusação que também recebe do lado do chavismo.

“Falcón não conseguiu vencer Maduro nem a MUD. Seu não reconhecimento da eleição é tardio. Acontecerão recriminações mútuas, as tentativas de capitalizar a abstenção”, afirmou à AFP o cientista político Luis Salamanca.

Para Salmanca e León, o grande desafio da oposição é uma reunificação ao redor de uma estratégia que pressione por mudanças, após quase duas décadas de chavismo.


León recorda que a “implosão” representa o “maior risco” de Maduro, se cada vez mais funcionários sentirem que estão encurralados pelas sanções internacionais.

Quase todo o círculo de governo é objeto de sanções da UE e de Washington, que incluiu na sexta-feira o número dois do chavismo, Diosdado Cabello, a sua lista de 70 autoridades venezuelanas sancionadas – incluindo Maduro.

O presidente tem o apoio da cúpula das Forças Armadas, mas a crise é tão severa que pode provocar uma divergência dentro da aliança cívico-militar governante ou uma ruptura social de maior escala, advertiu o Crisis Group.

O analista Benigno Alarcón considera que, cercado, o governo poderia acelerar a rota para um sistema de partido único como o de Cuba.

Mas os protestos pela falta de água, luz, alimentos e remédios aumentarão, acredita Diego Moya-Ocampos, do IHS Markit (Londres), o que levaria o governo a recorrer à repressão.

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