Há 27 anos, a 31 de Maio de 1991, o antigo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, e o falecido Jonas Savimbi assinavam em Portugal, os Acordos de Bicesse, que marcaram uma fase decisiva para o fim da então guerra civil que assolava Angola desde a Independência em 1975.
Fonte: JAInicialmente tido como início de uma nova era de abertura política e económica, os Acordos de Bicesse ficaram na História recente de Angola como a primeira tentativa de entendimento entre o Governo e a rebelião armada. Desde 1975, foram várias e diferentes as tentativas de aproximação para um eventual entendimento que culminasse no fim da guerra civil, nomeadamente o ensaio da Política de Clemência e Harmonização Nacional, bem como a cimeira de Chefes de Estado, realizada em Gbadolite, por iniciativa do antigo Presidente do ex-Zaire, Mobutu Sesse Seko.
Em todas as iniciativas, nunca as duas partes chegaram ao ponto mais esperado: selar os entendimentos num aperto de mãos e acordo escrito para ser executado, com a mesma dimensão de Bicesse. Nesta localidade portuguesa, o acordo entre o Governo e a então rebelião armada atingiu uma dimensão nunca antes vista, quer pela conjuntura internacional, marcada pelo fim da Guerra-Fria, quer pelos compromissos assumidos, quer pela mobilização da comunidade internacional. Na verdade, com Bicesse, o povo angolano esperava ver terminado todo um ciclo de violência que apenas contribuía para fazer regredir o país. E com a esperança trazida por Bicesse renovaram-se os desafios e as expectativas relacionadas com o advento de uma nova era de paz, de estabilidade e de perspectivas de desenvolvimento.
Em pouco tempo, a população angolana, de Cabinda ao Cunene, experimentou uma fase notável em termos de circulação de pessoas e bens, por força da cessação das hostilidades militares, acompanhadas de outros passos igualmente de natureza militar e política que encaminhavam Angola para a paz definitiva. Assim, passaram a estar em andamento, durante um ano, preparativos para que Angola realizasse as suas primeiras eleições gerais, um ano depois, num ambiente carregado sobretudo de esperança de um país reencontrado a todos os níveis. Embora efémera, foi bom viver a experiência de Bicesse sobretudo porque permitiu comprovar que os irmãos desavindos podiam entender-se.
Infelizmente, o machado da guerra não tinha sido inteiramente enterrado, razão pela qual os Acordos de Bicesse não tinham passado de simples folhas escritas que passaram para a História.
Hoje, 27 anos depois, Bicesse faz parte da História contemporânea de Angola e, embora sirva hoje para académicos e estudiosos, na verdade, o acordo permitiu a cada angolano compreender que o entendimento e a coexistência entre diferentes sensibilidades políticas era possível. Assim é que, mais de dez anos depois, os angolanos foram capazes de materializar o Acordo de Paz do Luena, a quatro de Abril de 2002, cujas bases de reconciliação e convivência na adversidade têm sido fortalecidas todos os dias de Cabinda ao Cunene.
Auguramos que o espírito que permitiu forjar os Acordos de Bicesse, sobretudo a componente que ajudou os angolanos a compreenderem que é possível viverem como irmãos, entenderem-se e gerirem as suas diferenças, sirva como paradigma para as gerações actuais e vindouras.
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