sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Eu sou a mãe de Bin Laden: "Era uma criança muito boa"



FotoOsama Bin Laden à conversa com um pequeno grupo de repórteres em 1998 DR

Alia Ghanem e dois dos irmãos do antigo líder da Al-Qaeda falam à imprensa pela primeira vez. “[Osama] era uma criança muito boa e amava-me muito”, diz a mãe de Bin Laden, que ainda se recusa a aceitar que o filho seja o principal responsável pelos ataques de 11 de Setembro de 2001 nos EUA.

Alia Ghanem é a mãe de Osama bin Laden, o antigo líder da Al-Qaeda, e aceitou falar pela primeira vez. O diário britânico The Guardian conversou com esta mulher na sala da sua casa em Jidá, na Arábia Saudita, onde não faltam fotografias emolduradas do primogénito, morto em 2011 por militares americanos na residência dele em Abbottabad, 50 quilómetros a norte da capital do Paquistão, Islamabad, quase dez anos sobre o ataque às torres gémeas de Nova Iorque.

Alia, que já tem mais de 70 anos, recebe Martin Chulov, repórter do Guardian no Médio Oriente desde 2005, na companhia de Ahmad e Hassan, os dois filhos que lhe restam, e do segundo marido, Mohammed al-Attas, que criou Osama desde que um dos principais rostos da ascensão do terrorismo internacional tinha três anos. Foi um bom pai, diz ela. “[Osama] era uma criança muito boa e amava-me muito.”

Há gerações que Jidá, cidade comercial na costa do Mar Vermelho e uma das mais ricas do Médio Oriente, serve de casa ao clã Bin Laden. A família, cuja fortuna está alicerçada num império da construção civil, continua a ser uma das mais poderosas e influentes do país.


FotoOsama bin Laden tornou-se líder incontestado da Al-Qaeda. Na foto, um islamista no Cairo beija uma imagem dele REUTERS/ASMAA WAGUIH

Foi por intermédio do Governo saudita que o repórter do Guardian chegou à família, que se tem mantido em silêncio todos estes anos. Foi por pressão da nova liderança, encabeçada por Mohammed bin Salman, um príncipe jovem com um gosto invulgar pelo confronto e pela mudança, que mãe e irmãos aceitaram falar. Riad, escreve Martin Chulov, está apostada em demonstrar que, ao contrário do que alguns defendem há muito, aquele que é dado como o principal responsável pelo 11 de Setembro não era um agente a soldo desta potência sunita do Golfo Pérsico, mas um proscrito.

  • A radicalização

A radicalização de Osama bin Laden, um rapaz tímido e aplicado, começou logo nos primeiros tempos da faculdade, conta a mãe. Foi na Universidade Rei Abulaziz, onde estudou Economia, que conheceu Abdullah Azzam, da Irmandade Muçulmana, o palestiniano que deu um suporte teológico à jihad afegã e que viria a ser o conselheiro espiritual. Na leitura que faz do que aconteceu na vida do filho mais velho, tudo corria bem até que ele conheceu “umas pessoas que basicamente lhe fizeram uma lavagem ao cérebro quando tinha pouco mais de 20 anos.” Alia Ghanem chama-lhe “um culto” que procurava reunir dinheiro para a causa: “Sempre lhe disse que se mantivesse afastado deles e ele nunca me contou o que estava a fazer porque me amava muito.”


FotoEsquema da casa onde Bin Laden foi capturado e depois abatido pelos EUA, no Paquistão

É Hassan, um dos meios-irmãos, quem durante a conversa tenta explicar como passou Osama de respeitado combatente contra a ocupação russa do Afeganistão – para onde foi no começo da década de 80 – a líder incontestado da Al-Qaeda durante quase duas décadas marcadas pelos atentados nos EUA, momentos que puseram o mundo a encarar o fenómeno do terrorismo à escala global.

“Tenho muito orgulho nele porque era o meu irmão mais velho. Ensinou-me muitas coisas”, diz, “mas não me orgulho muito dele como homem. Ele atingiu o estrelato no palco mundial mas foi para nada”.

Fonte:  PÚBLICO.PT

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