terça-feira, 19 de junho de 2018

RDC: Regime declara "guerra" a Moïse Katumbi, principal candidato à sucessão de Kabila




A Procuradoria-Geral da República (PGR) da República Democrática do Congo (RDC) abriu um processo judicial de inquérito ao alegado recurso a um passaporte falsificado por Moïse Katumbi, conhecido político e empresário exilado na Bélgica, um dos principais opositores e pré-candidato à sucessão do Presidente Joseph Kabila.

Fonte: NJ 

Moïse Katumbi, segundo a imprensa congolesa e belga, foi encontrado num aeroporto da capital da Bélgica, Bruxelas, a utilizar um passaporte não-válido, o que levou a PGR congolesa a abrir um processo contra o político e candidato que lidera o movimento "Unidos para a Mudança".

Em reacção ao que considera uma "jogada de antecipação" para evitar que possa surgir como candidato, o porta-voz de Katumbi veio a público acusar o Governo de Joseph Kabila de "furiosa perseguição política".

"De cada vez que a imprensa internacional fala de Moïse Katumbi, a PGR abre um inquérito judicial, mas estranhamos que a imprensa fale de tantos escândalos na RDC envolvendo o Governo de Joseph Kabila e o Procurador-Geral não tem nenhuma iniciativa", disse aos jornalistas Oliver Kamitatu.

Foi na sexta-feira que o também antigo governador provincial do Katanga foi interpelado pelas autoridades belgas quando provinha de Israel e seguia para a Rússia, tendo detectado que o seu passaporte não estava válido, sendo que isso deverá ser resultado de uma invalidação do documento pelas autoridades emissoras, na RDC.

Este é o segundo processo a envolver Katumbi e as autoridades judiciárias congolesas, que em Março último abriu outro inquérito para apurar a nacionalidade do candidato à sucessão de Kabila, o que os seus apoiantes e a restante oposição no país entende tratar-se de uma estratégia que visa afastá-lo da campanha eleitoral das eleições de 23 de Dezembro, onde Kabila não pode, segundo a Constituição, candidatar-se a um 3º mandato, mas às quais deverá apresentar um candidato "obediente" em seu nome.

Entretanto, como o NJOnline tem vindo a noticiar, somam-se as incongruências sobre as intenções de Kabila para as eleições do final deste ano, bem como os sinais de que poderá estar a preparar um qualquer "truque" para surgir como candidato, embora se aguarde para os próximos dias uma declaração definitiva sua sobre as suas intenções, o que deverá acontecer em Luanda.

Na RDC, ao que tudo indica, consiga Kabila ser candidato ou não - a sê-lo poderá pôr em causa a estabilidade já periclitante no país -, dois nomes surgem como os mais fortes candidatos ao seu lugar: o de Katumbi, mas também o de Jean-Pierre Bemba, o ex-Vice-Presidente que foi recentemente libertado pelo Tribunal Penal Internacional por falta de provas efectivas dos crimes pelos quais foi condenado a 18 anos de cadeia em 2008.

  • MNE da RDC em Luanda

Para já, o ministro dos Negócios Estrangeiros da RDC esteve ontem, segunda-feira, na capital angolana, para um encontro com o Presidente João Lourenço, que é também líder do Órgão de Cooperação Política, Defesa e Segurança (OCPDS) da SADC, onde o tema principal da conversa foi as eleições de Dezembro no país vizinho.

Léonard She Okitundu não se referiu a qualquer visita de Kabila a Luanda, embora o seu primeiro-ministro, Bruno Tshibala, o tenha feito há dias, garantindo que seria na capital angolana que o Presidente da RDC clarificaria o seu futuro político, para diluir as dúvidas que existem actualmente sobre estar ou não a preparar uma artimanha que lhe permita manter-se no poder.

O MNE congolês apenas lembrou que é já em finais de Julho que os candidatos farão a apresentação das suas intenções, formalizando os processos de candidatura, o que a lei da RDC restringe aos que não apresentem problemas com a justiça do país, onde Katumbi poderá esbarrar nas suas intenções se o processo do alegado passaporte não-válido for avante.

Entretanto, no âmbito da visita de Okitundu, o seu homólogo angolano, Manuel Augusto, reiterou aquilo que é a posição angolano face às eleiçõ0es na RDC, considerando-as essenciais para a normalização da democracia no país, sendo que Angola, como país vizinho, tem grande interesse que a corrida eleitoral decorra "sem problemas".

A importância das eleições na RDC para Angola ficaram bem claras na forma como o Presidente João Lourenço a elas se referiu na sua recente deslocação oficial a França e à Bélgica.


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