segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Reino do Luena pensa integrar campanha contra a sida nos ritos de iniciação




A decisão deve-se ao facto de a Soberana do referido reino, Rainha NHakatolo, ter sido a primeira entidade a ser escolhida como embaixadora da Campanha “Nascer Livre para Brilhar, liderada pela Primeira-dama de Angola, Ana Dias Lourenço”

Texto de: Alberto Bambi

Frutuoso Cayombo Samukongo, o regedor da sede municipal do Alto Zambeze, na província do Moxico, revelou a OPAÍS que o Reino do Luena, onde também ocupa a função de representante da Soberana Rainha NHakatolo, está disposto a ponderar alguns preceitos culturais e tradições para facilitar a viabilidade da campanha de luta contra a SIDA.

Para tal, o Regedor Jamba, como é conhecido no reinado, adiantou que os líderes da corte pensam em integrar informações sobre o VIH-SIDA, testagem, prevenção e tratamento na “Mukanda”, conjunto de ritos de iniciação tradicional da localidade, processo de passagem de crianças e adolescentes para a vida adulta, no qual, o ponto crucial costuma resumir-se na circuncisão e instrução de filosofias e gestão da vida.

O entrevistado admitiu que alguns padrões da comunidade poderão ver o seu curso teoricamente desviado, mas asseverou que a doença não poupa ninguém, podendo afectar crianças, jovens e adultos, daí que nada mais restava a eles senão considerar que certas limitações impostas pela tradição podem ser ponderadas.

“Veja que a primeira pessoa que a Primeiradama escolheu para fazer parte do grupo de embaixadores é a nossa rainha. Para nós, esta escolha nos passou a mensagem de que devemos acautelar certas situações e nos preocuparmos com uma doença que mata lentamente. E quem sabe se não fomos escolhidos para influenciar outros reinados, sobados, comunidades, aldeias e quimbos”? questionouse o Regedor Jamba, tendo adiantado que, para a sua sociedade do Alto Zambeze, a campanha se impunha ainda mais, pelo facto de fazer fronteira com as vizinhas República Democrática do Congo e República da Zâmbia.

Vale lembrar que, na ocasião de uma breve conversa que a equipa de reportagem de OPAÍS manteve com a Rainha NHakatolo, na ocasião do arranque da Campanha “Nascer Livre Para Brilhar”, em pleno Monumento da Paz, no Luena-Moxico, a soberana do reino tinha dito que estava disposta a fazer tudo que concorresse para a manutenção da vida da população do seu reino, ainda que tal obrigasse a um esforço fora do comum.

“E é bom vocês não pensarem que a luta contra a SIDA é uma coisa da cidade”, tinha ironizado, falando na sua língua local, que era prontamente traduzida pelo Regedor Jamba, que emendou dizendo, na altura, que a Mamã NHakatolo queria dizer que, se os indivíduos morrem por essa doença, lá Alto Zambeze também há pessoas que morrem.

O representante da Rainha NHakatolo falou ainda da existência de um programa que visa mobilizar os sobas, seculos e aldeões com cargos de destaque de várias regedorias e regiões que integram o Reino do Luena, a fim de levarem a cabo a campanha de sensibilização e mobilização para a testagem.

No que toca a programas direcionados para as crianças e adolescentes de uma faixa etária que, segundo as tradições e ritmo de vida aldeã, as afastava de informações sobre relações sexuais e outros aspectos da sexualidade, o entrevistado, referiu que todas as cautelas estão a ser tomadas para que este tipo de mensagem não venha a causar um impacto negativo nos infantis.

Jamba destaca a figura dos pais, encarregados de educação, professores e missionários como agentes recomendáveis para ajudar no êxito da campanha. “Aliás, para as aldeias também é mais fácil passar a mensagem às crianças sobre uma doença relacionada à vida reprodutiva, porque os nossos filhos vão para os ritos de iniciação muito cedo”, gabou-se.

OPAIS

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