quarta-feira, 30 de maio de 2018

Confusão no Iraque por possíveis fraudes em eleições legislativas

AFP/Arquivos / AHMAD AL-RUBAYEIraquiano segura imagem do clérigo Moqtada Sadr e uma bandeira do Iraque, em Bagdá, em 14 de maio de 2018

Quase três semanas depois das eleições legislativas, a confusão reina no Iraque, onde, apesar das acusações de fraude eleitoral cada vez mais numerosas, as negociações para formar um novo governo já estão em curso.


Várias personalidades da política iraquiana, vítimas das listas independentes e antissistema, reclamam uma recontagem dos votos e algumas, inclusive, uma anulação da votação.

As autoridades aceitaram reexaminar os resultados, mas ainda não tomaram nenhuma medida concreta.

De acordo com especialistas, as acusações de fraude obedecem mais a uma última tentativa dos políticos frustrados por sua expulsão do poder do que a um potencial terremoto político em um país decidido a virar a página após três anos de luta contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI).

Em 12 de maio, para surpresa geral, a lista do clérigo xiita Moqtada Sadr, aliado com os comunistas, venceu os ex-combatentes contra o EI, próximos ao Irã xiita.

"Não é possível anular esses resultados, iria supor uma crise e até confrontos armados", diz à AFP o cientista político Essam al-Fili.

As forças xiitas "não estão dispostas a abandonar o que conseguiram" enquanto estiverem em uma posição de força nas negociações do governo, que começaram um dia após a votação, acrescenta.

Com o avanço eleitoral dos novos atores, muitas personalidades quase inabaláveis desde a queda da ditadura de Saddam Hussein há 15 anos, perderam seu assento.

São eles - com o presidente do Parlamento, Salim al-Jabouri, no comando - os que hoje apontam a controvérsia eleitoral.

- '12.000 votos' -

Esses políticos, que têm até quinta-feira para formalizar as reclamações, conseguiram votar na segunda-feira no Parlamento a anulação dos resultados do voto de expatriados e deslocados.

AFP/Arquivos / Haidar HAMDANIO presidente do Parlamento iraquiano, Salim al-Joubouri, em entrevista coletiva em Najaf, em 6 de maio de 2017

Também votaram por uma recontagem manual de 10% das urnas que, se diferir em mais de 25% dos resultados anunciados pela comissão eleitoral, dará lugar a uma recontagem manual de 11 milhões de cédulas.

Não vinculante, esta votação deveria ser simbólica.

Diante das acusações de fraude, os serviços de Inteligência asseguraram que testaram as máquinas de voto eletrônico e conseguiram mudar os resultados, parecendo acreditar nas chances de fraude.

O governo ordenou retomar a análise dos resultados, enquanto a mídia e as redes sociais não param de desmentir as acusações, que concernem principalmente às zonas eleitorais no exterior, parte minoritária dos eleitores.

O polêmico deputado em fim de mandato, Mechaan al-Joubouri, derrotado, assegurou ter visto em Damasco "o responsável da comissão eleitoral de Síria e Jordânia vender a um dirigente político 12.000 votos de expatriados iraquianos na Síria e 4.000 votos em outro país".

Joubouri também denunciou fraudes em Amã, onde vive sua família e onde assegura ter feito uma intensa campanha para, finalmente, não conseguir mais do que 19 votos.

"Tenho a impressão de que há um claro complô contra mim", declarou, afirmando que as máquinas de voto só lhe creditaram 5.000 dos 24.000 votos que assegura que pode comprovar que recebeu.

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