segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Os bastidores da rutura entre Cristiano Ronaldo e o Real Madrid


© Susana Vera A anatomia de um adeus: os bastidores da rutura entre Cristiano Ronaldo e o Real Madrid

A data é 11 de maio de 2017. Cristiano Ronaldo organiza uma reunião em casa de Jorge Mendes, na luxuosa urbanização de La Finca, nos arredores de Madrid, com o seu agente e outros assessores, pessoas da sua confiança a quem entregou as rédeas dos seus ganhos nas chatas relações com o fisco, para se preocupar apenas com uma coisa: jogar futebol.


O "El Mundo", num texto assinado pelos jornalistas Esteban Urreiztieta e Orfeo Suárez, diz que esse 11 de maio de 2017 foi o dia que marcou o início do fim da relação do português com o Real Madrid e com Espanha, que o acusava de fugir ao fisco, de não declarar milhões em direitos de imagem.

"Quem é o responsável por isto?", terá perguntado o português, depois da justiça o acusar de fuga ao fisco. "Doutor, eu disse-lhe que não queria riscos!", continuou, dirigindo-se a Carlos Osório, um dos braços-direitos de Jorge Mendes (e dos jogadores de Jorge Mendes) em questões fiscais.

O questionário de Cristiano terá continuado, face ao silêncio dos restantes presentes, conta o diário espanhol."Não tenho estudos. A única coisa que fiz na vida foi jogar futebol, mas não sou parvo e não confio em ninguém. Por isso é que quando contrato um assessor pago sempre mais 30% para lá do que me pede, porque não quero problemas".

Perante a insistência de Cristiano, Osório terá finalmente falado: "Cris, o responsável sou eu. Mas fica calmo, está tudo bem e vamos dar luta a isto até à morte". Estas palavras terão sido recebidas com desconfiança por parte de outros assessores do jogador, que sabiam que, não, nem tudo estava bem com as obrigações fiscais do jogador português.

© Juan Medina Tribuna

Diz ainda o "El Mundo" que isso terá contribuído para que Cristiano Ronaldo demorasse a perceber a gravidade da situação e a necessidade de fazer um acordo com o fisco. Cristiano acreditou sempre que nada havia sido feito de errado. "Eu nunca disse para que não se pagassem os impostos! Quero saber o que se passou. Não percebo nada disto, os impostos quem tem de pagar são os patrocinadores, porque me acusam a mim?", terá também dito, de forma enfurecida na reunião.


O jogador português acreditava que a forma de cumprir as obrigações fiscais eram iguais quando se negociava com clubes ou com patrocinadores. Não é, quando se negoceia direitos de imagem, é o próprio que tem de tratar dos respetivos descontos.
A "traição do Real Madrid"

Cristiano também não estava completamente informado sobre as diferenças que existem entre o fisco britânico e o espanhol: em Inglaterra, os futebolistas podem desviar de forma legal 50% dos seus direitos de imagem para sociedades com sede fora do país.

Em Espanha essa prática é ilegal, mas segundo o "El Mundo", os assessores de Cristiano não o informaram dessas nuances.

Já depois do mal feito, Cristiano passou a acreditar que Florentino Pérez o apoiaria nesta questão, tal qual a direção do Barcelona havia feito com Leo Messi e outros jogadores dos catalães. Mas o Real Madrid colocou-se fora da questão, algo que caiu muito mal no português.

© Mike Hewitt - FIFA Relação com Florentino Pérez deteriorou-se nos últimos anos

E pior ainda ficou quando percebeu que não existia vontade por parte do Real de lhe melhorar o contrato, algo que o Barcelona havia feito com Messi de forma encoberta, precisamente para mitigar as suas perdas, depois de pagar milhões ao fisco.

Mas Cristiano queria voltar a ser o mais bem pago do Mundo, e não o terceiro, atrás de Messi e Neymar, por outras razões. "É um falta de respeito que eu, Bola de Ouro, ganhe menos que Messi e Neymar. Não é dinheiro: é status, é respeito", terá dito.

Finalmente, no final da última temporada, o Real Madrid ofereceu ao jogador um contrato de 25 milhões de euros anuais, que só chegaria aos 30 milhões, o valor que Cristiano pedia, mediante algumas variáveis de desempenho. O português não terá ficado contente e terá confidenciado aos mais próximos que a época 2017/18 seria a última em Madrid.

E seria a última também por não se sentir devidamente valorizado, porque acreditar que sempre seria visto como o segundo melhor jogador da história do Real e não o primeiro. "Colocam-me sempre atrás do Di Stéfano. Já não sei mais o que fazer".
A proposta de 150 milhões

Antes de finalmente deixar o Real e assinar pela Juventus, houve outras hipóteses para Cristiano. Diz o "El Mundo" que o Milan chegou a apresentar uma proposta que oferecia 150 milhões de euros ao português em cinco anos. O avançado terá estado inclinado a aceitar, mas acabou por não o fazer.

© DR Português mudou-se para a Juve este verão

Já o Manchester United apresentou uma proposta demasiado baixa para as pretensões do Real Madrid, que pedia 100 milhões pelo português. O Paris Saint-Germain também se acercou de Jorge Mendes para contratar o português, tal como Carlo Ancelotti, que o queria no Nápoles. E só não avançou porque o presidente dos napolitanos considerou que o negócio iria arruinar o clube.

Face aos avanços e recuos dos vários clubes, terá sido o próprio Cristiano a pediu a Jorge Mendes para apalpar o pulso à Juventus. "Gosto da Juventus porque é um clube organizado e não me esqueço que tentaram contratar-me quando ainda estava no Sporting", terá dito ao agente.

A primeira aproximação a Andrea Agnelli terá sido feita precisamente quando Real Madrid e Juventus se enfrentaram na Liga dos Campeões. A ideia amadureceu no líder da equipa de Turim, desesperado para levar a equipa à vitória na Champions e bem ciente do impacto mediático e financeiro que teria a chegada de Cristiano.

Por fim, Agnelli também ganhou o português ao garantir-lhe um sistema fiscal bem mais simples e simpático para os futebolistas.

Conta o "El Mundo" que quando Cristiano decidiu assinar pela Juve, não houve volta a atrás, mesmo que Jorge Mendes acreditasse que Florentino Pérez iria jogar uma última cartada, oferendo a Cristiano Ronaldo aquilo que queria.

E assim, Cristiano Ronaldo fez as malas e foi para a Serie A.

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